

Rio de Janeiro – O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta segunda-feira, na cúpula virtual do BRICS, que, em um mundo cada vez mais instável, cabe ao grupo demonstrar que a cooperação supera qualquer forma de rivalidade e que “o BRICS é agora o novo nome para a defesa do multilateralismo”.
A cúpula virtual foi convocada por iniciativa do próprio presidente brasileiro.
Ele enfatizou que os pilares da ordem internacional criada em 1945 estão sendo minados de forma rápida e irresponsável e que a Organização Mundial do Comércio (OMC) está paralisada há anos.
“Em poucas semanas, medidas unilaterais tornaram princípios fundamentais do livre comércio, como as cláusulas da Nação Mais Favorecida e do Tratamento Nacional, letra morta. Agora, estamos testemunhando o sepultamento formal desses princípios. Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”, enfatizou.
“Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”, afirmou Lula.
“A chantagem tarifária está se normalizando como instrumento para conquistar mercados e interferir em assuntos internos. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos”, observou.
Ele afirmou que a integração comercial e financeira entre os países do BRICS oferece uma opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo.
“Temos a legitimidade necessária para liderar a refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e orientadas às nossas necessidades de desenvolvimento. Para isso, precisamos chegar unidos à 14ª Conferência Ministerial da OMC, no próximo ano, em Camarões”, observou.
Quando o princípio da igualdade soberana dos Estados deixa de ser observado, alertou, “a interferência em assuntos internos torna-se prática comum”.
Em relação à crise na Ucrânia, afirmou, é necessário abrir caminho para uma solução realista que respeite as legítimas preocupações de segurança de todas as partes.
Afirmou que a decisão de Israel de assumir o controle da Faixa de Gaza e a ameaça de anexação da Cisjordânia exigem “nossa mais veemente condenação”.
“É urgente pôr fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos territórios palestinos. O Brasil decidiu participar como parte da ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça. Reiterar seu compromisso com a Solução de Dois Estados estará no cerne da ação do Brasil na Conferência de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão Palestina”, observou.
Recordou que a América Latina e o Caribe optaram, desde 1968, por permanecer livres de armas nucleares e, por quase 40 anos, “somos uma Zona de Paz e Cooperação”.
“A presença das forças armadas da maior potência mundial no Mar do Caribe é um fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”, enfatizou.
Ele considerou que outra lacuna fundamental na arquitetura multilateral diz respeito à esfera digital, onde, sem governança democrática, projetos de dominação centrados em poucas empresas em poucos países se perpetuarão.
“Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira. Isso não significa fomentar um ambiente de isolacionismo tecnológico, mas sim promover a cooperação baseada em ecossistemas nacionais, independentes e regulamentados”, afirmou.
O impacto do unilateralismo também é grave na esfera ambiental, afirmou, lembrando que os países em desenvolvimento são os mais afetados pelas mudanças climáticas.
“A COP30 em Belém, Brasil, será o momento da verdade e da ciência. Além de trabalhar pela descarbonização planejada da economia global, podemos usar combustíveis fósseis para financiar a transição ecológica. Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer uma supervisão eficaz”, observou.
O líder brasileiro concluiu enfatizando que “o Sul Global tem condições de propor outro paradigma de desenvolvimento e refutar uma nova Guerra Fria”.
“O unilateralismo jamais levará à concretização dos objetivos de paz, justiça e prosperidade que nossos antecessores delinearam em 1945. O BRICS já é o novo nome para a defesa do multilateralismo”, concluiu.
Com a expansão do ano passado, o BRICS passou a contar com 11 membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia.
“Cabe ao BRICS mostrar que a cooperação supera qualquer rivalidade. Regras e normas mutuamente acordadas são essenciais para o desenvolvimento. O comércio e a integração financeira entre nossos países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo. Possuímos inúmeras complementaridades econômicas”, ressaltou Lula. “O BRICS já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, afirmou Lula.
Para Lula, há uma crise de governança das instituições multilaterais que não é conjuntural e precisa ser endereçada de forma conjunta. “Os pilares da ordem internacional criada em 1945 estão sendo solapados de forma acelerada e irresponsável”. Lula alertou para a paralisia da OMC e para a normalização de práticas comerciais unilaterais como exemplos.
Em seu discurso, o presidente destacou avanços recentes do BRICS e a importância do grupo para a governança global. “Na Cúpula do Rio de Janeiro, mostramos que o BRICS é capaz de aportar soluções concretas para os dilemas enfrentados pela humanidade. Aprovamos decisões importantes em matéria de mudança do clima, saúde global, governança da inteligência artificial e integração econômico-comercial”, disse.
(251105) -- ZHENGZHOU, Nov. 5, 2025 (Xinhua) -- This photo taken on Nov. 3, 2025 shows a new energy vehicle (NEV) assembly line of BYD, China's leading NEV manufacturer, at the plant of BYD in Zhengzhou, central China's Henan Province. As an important industrial base in central China, Henan Province has actively promoted the high-quality development of its manufacturing sector through scientific and technological innovation and industrial upgrading. (Xinhua/Li Jianan)