O que está por trás da última mudança de governo na França?

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O que está por trás da última mudança de governo na França?

Foto: Xinhua/Gao Jing

Paris – O presidente Emmanuel Macron nomeou nesta terça-feira o ex-ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, como o novo chefe de governo, um dia após o gabinete de François Bayrou perder um voto de confiança na Assembleia Nacional.

Lecornu, 39 anos, tornou-se o quinto primeiro-ministro durante o segundo mandato de Macron, iniciado em maio de 2022. O antecessor de Bayrou, Michel Barnier, também foi forçado a renunciar por um voto de desconfiança em dezembro de 2024.

O QUE LEVA AO COLAPSO DO GOVERNO

A proposta orçamentária de Bayrou para reduzir os gastos públicos foi o principal gatilho de oposição na Assembleia Nacional. Na segunda-feira, 364 deputados votaram contra o plano, 194 a favor e 15 se abstiveram.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, apresenta sua declaração de política geral antes de um voto de confiança sobre o plano de corte orçamentário, em Paris, França, em 8 de setembro de 2025. (Foto por Aurelien Morissard/Xinhua)

O plano orçamentário buscava resolver o crescente problema da dívida francesa, que Bayrou descreveu como uma questão urgente. Dados oficiais mostram que a dívida pública francesa era de 3.345,8 bilhões de euros (cerca de 3.914,6 bilhões de dólares americanos), ou 114% do seu Produto Interno Bruto, no final do primeiro trimestre de 2025.

A proposta de Bayrou incluía a redução de feriados nacionais, o congelamento de benefícios sociais e o corte de gastos públicos, com o objetivo de economizar cerca de 44 bilhões de euros. No entanto, sua proposta gerou ampla reação negativa.

Antes do voto de confiança de segunda-feira, sindicatos e partidos de oposição programaram uma paralisação nacional para quarta-feira, conhecida como o movimento “Bloqueie Tudo”, para protestar contra o plano de austeridade.

Um Parlamento fragmentado agravou ainda mais os desafios enfrentados pelo governo francês. Após as eleições antecipadas de 2024, nenhum bloco político obteve maioria clara na Assembleia Nacional, deixando o governo minoritário vulnerável e instável.

A decisão de Bayrou de buscar um voto de confiança, em vez de buscar um acordo com os partidos da oposição, também acelerou sua queda. Em agosto, ele chamou a votação de “momento da verdade”, uma medida que muitos analistas descreveram como um erro estratégico.

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, apresenta sua declaração de política geral antes de um voto de confiança sobre o plano de cortes orçamentários, em Paris, França, em 8 de setembro de 2025. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, perdeu na segunda-feira o voto de confiança na Assembleia Nacional Francesa devido ao seu plano orçamentário que buscava economizar 44 bilhões de euros por ano em gastos públicos. (Foto por Aurelien Morissard/Xinhua)

RESPOSTA MUNDIAL

A crise política na França foi notícia internacional na terça-feira. A mídia ocidental destacou a instabilidade política dentro do governo Macron.

O jornal americano The New York Times noticiou o assunto sob a manchete “Governo francês entra em colapso mais uma vez, agravando a paralisia”, refletindo preocupações com a instabilidade política crônica. O jornal britânico The Guardian observou que a queda de Bayrou e um parlamento dividido dificilmente proporcionariam a estabilidade necessária ao presidente Macron.

Os mercados financeiros também reagiram com cautela. De acordo com o Les Echos, um diário econômico francês, a Fitch Ratings deve revisar a nota de crédito da França esta semana, com analistas prevendo um possível rebaixamento para A+, sinalizando uma mudança histórica, já que a França tinha uma classificação AAA antes da crise financeira de 2008.

O QUE ESPERA PARA O NOVO PRIMEIRO-MINISTRO

Ao contrário de atrasos anteriores na nomeação de um novo primeiro-ministro, Macron nomeou Lecornu rapidamente, sinalizando a urgência na estabilização da situação política e econômica.

Foto tirada em 4 de setembro de 2025 mostra o ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, chegando ao Palácio do Eliseu, em Paris. O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, como o novo primeiro-ministro, em 9 de setembro de 2025. (Xinhua/Gao Jing)

Lecornu, que foi ministro da Defesa por mais de três anos, é considerado um aliado próximo de Macron.

As reações dos partidos políticos franceses à nomeação são mistas. O ex-primeiro-ministro Edouard Philippe elogiou Lecornu por sua capacidade de negociar e chegar a um acordo com os outros partidos. Marine Le Pen, ex-candidata presidencial do Rally Nacional, criticou a medida, dizendo que Macron está “jogando sua última carta do macronismo”.

Mathilde Panot, presidente do grupo parlamentar La France Insoumise, condenou a nomeação de Lecornu como uma “provocação” em meio aos crescentes protestos. Ela acusou Macron de seguir “a mesma política para os ricos, que são minoria na Assembleia e país”.

Observadores mencionam que Lecornu enfrenta vários desafios importantes: formar um governo, administrar potenciais votos de desconfiança e abordar as questões pendentes deixadas pela saída de Bayrou.

Foto tirada em 8 de setembro de 2025 mostra a Assembleia Nacional Francesa em Paris, França. O primeiro-ministro francês, François Bayrou, perdeu na segunda-feira o voto de confiança na Assembleia Nacional Francesa devido ao seu plano orçamentário que buscava economizar 44 bilhões de euros por ano em gastos públicos. (Foto por Aurelien Morissard/Xinhua)

Uma de suas prioridades imediatas será elaborar o plano orçamentário do governo, um Waterloo político para vários primeiros-ministros franceses, mas também uma missão da qual o governo não pode se esquivar ou se desviar. (1 euro = 1,17 dólar americano)

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