Por Sana Kamal

Gaza – Hiba Mohammed, uma palestina de meia-idade em Gaza, finalmente conseguiu se opor contra a violência doméstica que sofre há anos.

Há um mês, a mulher de 49 anos se cadastrou em um aplicativo de celular chamado Our Space, que foi recomendado pela amiga para buscar ajuda e acabar com seu sofrimento.

“Sofro desde os 14 anos, quando minha família me forçou a me casar com um homem cerca de 15 anos mais velho que eu”, disse a mãe de quatro filhos à Xinhua.

Durante 20 anos, recordou a mulher, foi submetida a vários tipos de violência doméstica, seja do marido ou da família dele que a tratava como empregada e não como esposa ou nora.

Em 2015, seu marido morreu de câncer. No entanto, seu sofrimento não parou por aí, pois seus irmãos a forçaram a deixar seus filhos para se casar com outro homem idoso na casa de sua família.

“Desde que voltei para a casa da minha família, fui privada de ver meus filhos enquanto meus irmãos me batiam de vez em quando. Virei uma nova empregada das esposas deles que não me respeitavam”, lamentou ela.

Na tentativa de escapar de sua vida trágica, Hiba tentou tirar a própria vida mais de uma vez tomando doses de pílulas medicinais, mas todas falharam e só causaram mais abusos.

Uma história semelhante foi contada por Halima Ahmed da cidade de Beit Hanoun, no norte de Gaza, onde foi agredida por seus irmãos e marido por mais de 10 anos.

“Infelizmente, a cultura social encoraja as mulheres a aceitar insultos e a obedecer aos maridos, mesmo que suas decisões estejam erradas”, disse a mãe de sete filhos, de 40 anos, à Xinhua.

“Depois de muitos anos de sofrimento, eu e meus filhos fomos abandonados pelo meu marido. Ficamos sem sustento e enfrentamos a pobreza”, disse ela.

Com a ajuda do aplicativo Our Space, Hiba e Halima agora recebem apoio psicológico de uma instituição feminista, que as auxilia no enfrentamento à violência doméstica.

“Este aplicativo ajuda mulheres agredidas a acessar suas próprias instituições com menos tempo, esforço, custo e mais confidencialidade”, disse à Xinhua, Salma Swirki, psicóloga do Centro de Assuntos da Mulher em Gaza, parceiro do aplicativo Our Space.

“Assim que uma mulher entra em contato conosco, nos comunicamos com ela pelo número gratuito disponível no aplicativo, ou via e-mails para orientar a ela. Um programa de aconselhamento para ela de forma presencial”, disse ela.

Em parceria com 14 organizações não governamentais de mulheres, o aplicativo oferece apoio psicológico, econômico, social e jurídico, além de abrigo para mulheres que sofrem violência doméstica.

Cerca de 58,2 por cento das mulheres nos territórios palestinos foram expostas à violência doméstica em 2021, seja física ou psicológica, de acordo com um relatório divulgado pelo Escritório Central de Estatísticas da Palestina em março.