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Março Amarelo: saiba o que é a Endometriose

A endometriose está entre as 20 doenças mais dolorosas do mundo - Foto: Reprodução

Por: Julyana Araújo

A campanha Março Amarelo alerta para uma doença que afeta cerca de 180 milhões de mulheres em todo o mundo e, aproximadamente, 7 milhões no Brasil, ou seja, 1 em cada 10 mulheres possuem endometriose, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A ação visa tornar o assunto mais acessível entre as portadoras, e assim, promover mais informações acerca do tema. Além disso, ao longo deste mês são realizadas ações em todo o país para conscientizar a população, especialmente as mulheres, sobre os riscos, os sintomas e as formas de tratamento.

O que é a Endometriose

De forma resumida, a endometriose é uma doença crônica de difícil diagnóstico em que o endométrio que reveste o útero cresce fora do útero interno. Pode afetar vários órgãos, como o intestino, reto, bexiga, ciático, diafragma, e em alguns casos mais raros, pode atingir o coração, pulmão e cérebro. Existem 3 tipos de endometriose: leve, moderada e profunda. A profunda é uma condição, por vezes incapacitante, não muito debatida e, até uns anos atrás, era de pouco conhecimento entre os médicos do Brasil. A endometriose geralmente é diagnosticada entre 25 a 35 anos, embora ela, normalmente, apareça já alguns meses após o início da primeira menstruação. Apesar de algumas teorias, as causas ainda são desconhecidas. O tratamento, dependendo do caso, é feito através de medicamentos e/ou cirurgias.

Sintomas

De acordo com a ginecologista Rebecca Spinelli, os sinais e sintomas mais comuns da doença (mais intensos durante o período menstrual) são: “Cólicas intensas, dores e inchaço abdominal, dificuldade para engravidar, intestino preso ou solto, dor para evacuar, sangramento na urina ou nas fezes e ainda dores no ato sexual”, explica.

É válido ressaltar que cada endometriose é única, e os sintomas dependem da localização e dos órgãos acometidos. Além dos sintomas físicos, também existem os sintomas psicológicos advindos da endometriose. Depressão, insônia, ansiedade, baixa autoestima se tornou uma realidade presente no dia a dia de algumas diagnosticadas.

Embora a endometriose seja crônica, existem algumas alternativas para tentar amenizar os sintomas dolorosos. Segundo a especialista Rebecca Spinelli, para controlar a doença, é necessário acompanhamento multiprofissional: “Adotar estilo de vida saudável, com alimentação anti-inflamatória, além da prática de atividades físicas, é de fundamental importância”, afirma.

“É frescura, é só uma colicazinha”

Comentários como este acima são ditos diariamente a quem sofre com a endometriose. Em entrevista, umas das diagnosticadas comenta: “Endometriose deve ser tratada com mais seriedade, muitas vezes, nossas médicas não acreditam nas nossas dores”, relata Lidi Almeida, que está na luta contra a enfermidade.

Outra dificuldade que as portadoras enfrentam é sobre não conseguir realizar tais tarefas por causa das fortes dores, como é o caso de Flávia Macêdo: “Me cobro bastante. Principalmente porque precisei parar de trabalhar, por não suportar colocar o pé no chão nos dias de crise. Fui diagnosticada com endometriose profunda, desde então minha vida ficou de cabeça para baixo. Faço terapia, o que tem me ajudado bastante”, desabafa.

Maryana Araújo, portadora da endometriose, conta que sentia dores muito fortes, mas nenhum médico descobria o que era: “Em 2013, eu comecei a ter dificuldades de ir ao banheiro. Fiquei dois anos indo ao médico, mas nada resolvia. Quando foi agosto de 2017, eu comecei a sentir dores muito fortes no período da menstruação, parecia que eu ia morrer de tanta dor. Fiz vários exames e nunca descobriam o diagnóstico. Eu chegava a ficar um mês com dores intensas. Em setembro de 2018, fiz uma ressonância, e finalmente, descobri que era endometriose profunda”, relata.

A rotina dela também foi afetada, uma vez que a doença também mexe com o psicológico: “Depois que descobri a endometriose, além da queda de cabelo e aparecimento de acnes, a ansiedade aumentou ainda mais e a insônia também. O meu sono ficou desregulado”, contou.

Mobilização na Internet

Cada vez mais, atualmente, é comum de se notar uma grande mobilização nas mídias digitais em grupos de WhatsApp, Facebook, Instagram – onde os membros compartilham experiências e dúvidas acerca do tema relacionado. Numa pesquisa rápida é possível encontrar diversos perfis que criam conteúdos informativos sobre a Endometriose.

Em entrevista concedida, Gisely Monteiro, criadora do perfil @foconaendometriose, conta que a iniciativa surgiu da necessidade que ela tinha de ter informações corretas e de fácil entendimento: “Quando eu tive o diagnóstico de endometriose, em 2011, eu não encontrava informações acessíveis sobre essa doença. Tive que aprender a entender os artigos científicos e pesquisas para saber o que era a endometriose. Passei 9 anos tratando a endometriose e aprendendo sobre ela. A partir desse momento, decidi criar o projeto para ajudar as mulheres a não passarem pelo o que eu passei, que foi a falta de informação”, relata.

Ela destaca, ainda, que o projeto tem o intuito de trazer informações sobre a doença com uma linguagem simples: “Uma doença que é tão pouco falada, mas que é tão comum quanto à diabetes. A missão é ajudar as mulheres a entenderem e a conviverem melhor com a endometriose de uma forma leve e descontraída”, finaliza.

Uma rede de apoio que ajuda milhares de portadoras de todos os lugares e que, muitas vezes, elas não sabem como prosseguir perante o diagnóstico. Encontrar uma comunidade neste meio virtual pode ser um caminho de esperança para aquelas que estão enfrentando a doença.

Ariane Steffen também decidiu criar um perfil na internet, que hoje conta com 33 mil seguidores, para alcançar mais vidas: “A partir do momento que obtive resultados de melhora na qualidade de vida, com alimentação anti-inflamatória e uma suplementação adequada, as dores incapacitantes foram embora. Quis dividir isso com outras portadoras, por ter acabado com meu sofrimento de anos, de uma forma tão simples, mas falar sobre isso em outros grupos que participava, me foi proibido, fui excluída e bloqueada de alguns, onde falar abertamente de anticoncepcionais era ok, mas falar de chás ou água com limão, por exemplo, era proibido”, comenta.

“Foi aí que nasceu a Endometriose Sem Censura, para trocar experiências abertamente mediante a essa necessidade que não era só minha. Em tempo recorde, nos tornamos o maior grupo de apoio às portadoras da América Latina. Nossa missão é promover saúde ao invés de cultivar a doença. Incentivar mudanças de hábitos que trazem qualidade de vida e seguir transformando o mundo”, concluiu.

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