Beijing – No início da manhã de 11 de junho, o navio de pesquisa científica da China Tan Suo Yi Hao (Descoberta Um), transportando o submersível tripulado Shenhai Yongshi (Guerreiro do Mar Profundo), chegou a Sanya, Província de Hainan, no sul da China, marcando a conclusão bem-sucedida de uma missão pioneira de investigação arqueológica em alto mar.
Em pouco mais de 20 dias, o submersível, transportando membros de uma equipe arqueológica conjunta, detectou mais de 200 relíquias culturais que remontam há cerca de 500 anos desde onde estão dois navios antigos, a cerca de 1.500m abaixo das águas do Mar do Sul da China.
Entre as descobertas estavam uma âncora de ferro medindo cerca de um metro de comprimento, uma caixa que à primeira vista parece ser feita de madeira, duas peças de madeira e várias peças de cerâmica, como uma jarra de porcelana azul e branca, um prato de porcelana azul e branca e uma tigela de vidro branco.
MISSÃO SEM PRECEDENTES
A missão submersível foi a primeira etapa de uma investigação arqueológica subaquática mais ampla focada nos dois navios, conduzida por cientistas e técnicos chineses a bordo do navio de pesquisa Tan Suo Yi Hao.
Os destroços foram descobertos pela primeira vez em outubro de 2022 pelo Shenhai Yongshi, após cerca de 500 mergulhos exploratórios. Eles foram identificados como sendo da Dinastia Ming (1368-1644), e mais tarde nomeados os naufrágios nº 1 e nº 2, perto da encosta continental noroeste do Mar do Sul da China.
Os destroços relativamente bem preservados contêm um grande número de relíquias culturais de importante valor histórico, científico e artístico. A descoberta não é apenas um grande avanço para a arqueologia de águas profundas da China, mas também uma descoberta arqueológica significativa a nível global.
De acordo com Yan Yalin, diretor do departamento de arqueologia da Administração Nacional do Patrimônio Cultural, a descoberta demonstra os fatos históricos que os ancestrais chineses desenvolveram, utilizaram e viajaram de e para o Mar do Sul da China. Isso contribui para a pesquisa sobre a história marítima, a história da cerâmica e a história do comércio exterior da China, bem como para o estudo da Rota da Seda Marítima
Para conduzir a investigação arqueológica, uma equipe arqueológica conjunta composta por cerca de 30 pessoas, incluindo arqueólogos e especialistas em geofísica, geologia marinha, biologia marinha e eletromecânica, foi montada e uma investigação arqueológica em três estágios foi lançada.
A missão é inédita.
A China iniciou suas explorações arqueológicas subaquáticas na década de 1980, mas a maioria das missões foi realizada em áreas costeiras rasas, cerca de 40 metros abaixo do nível do mar. Em 2018 e 2022, o país realizou duas investigações arqueológicas em alto mar, abrindo um novo capítulo para a arqueologia de alto mar do país.
No entanto, esta missão mais recente é particularmente desafiadora.
Por um lado, a natureza extensa dos achados arqueológicos no local apresenta alguns desafios. Além do navio, grandes quantidades de cerâmica e objetos de cerâmica, bem como pedaços de madeira, foram encontrados espalhados por uma área de cerca de 10 mil metros quadrados, assentados no fundo do oceano, a cerca de 1.500 metros abaixo do nível do mar.
Além disso, não há ninguém que possa dar orientação sobre tal projeto. “Não há no mundo nenhum caso anterior de uma investigação arqueológica sobre naufrágios de tal escala nesta profundidade”, comentou Chen Chuanxu, especialista em prospecção geofísica e vice-chefe da missão.
Os membros da equipe tiveram que explorar seu próprio caminho.
TRABALHO DIFÍCIL
Considerando a complexidade da arqueologia de águas profundas, a equipe fez planos minuciosos para quase todos os aspectos de seu trabalho. Desde a limpeza e transporte das relíquias até a formatação do diário de trabalho de cada membro, todos os detalhes foram discutidos pelos membros antes que o melhor plano de ação fosse definido.
“Situações inesperadas podem surgir a qualquer momento”, disse Song Jianzhong, chefe da missão. “É uma viagem difícil para todos, e grandes desafios nos esperam.”
Cada mergulho durou cerca de oito a nove horas, durante as quais os arqueólogos trabalharam com grande concentração para observar, registrar e analisar o estado do local. Enquanto isso, os pilotos do submersível, de acordo com as instruções dos especialistas, realizaram tarefas como medição a laser e gravação de imagens em vários ângulos e coletaram amostras e relíquias com a mão robótica do submersível.
O trabalho foi realizado com extrema diligência e prudência.
“Em muitos casos, não há segunda chance — um erro pode levar a consequências irreversíveis”, assinalou o piloto do submersível, Li Hangzhou, acrescentando que todos os pilotos do submersível mantiveram os mais altos padrões durante a missão.
A alta tecnologia também desempenhou um papel importante.
Por exemplo, para determinar o melhor local para coletar amostras na vasta área onde as relíquias foram espalhadas, Yue Chaolong, membro do grupo de compilação de informações da equipe, usou a tecnologia de costura de imagens digitais 3D para processar as imagens visuais de cada mergulho e gerar um mapa panorâmico do local.
DEBAIXO DAS ÁGUAS, ALÉM DOS SONHOS
A primeira fase da pesquisa foi bem-sucedida.
Xinhua/Pu Xiaoxu
Além das relíquias coletadas, a equipe também realizou varredura a laser 3D e costura de material visual das áreas de estacas centrais de ambos os navios.
A missão também realizou alguns experimentos e usou tecnologias avançadas, como posicionamento de linha de base longa e garras robóticas macias, para arqueologia de alto mar. Além disso, ao manter diários detalhados, relatórios científicos e formulários de registro de relíquias protegidas, a equipe aprimorou os protocolos de trabalho da arqueologia de profundidade.
Zhang Ninghao, outro vice-chefe da missão, disse que o fim desta fase de pesquisa representa um novo começo.
Para a equipe, a investigação é um poderoso lembrete de quantos mistérios da civilização estão escondidos sob as ondas.
O arqueólogo Deng Qijiang, que também é vice-chefe da missão, lembrou depois de terminar um mergulho: “Posso ter sonhado com isso centenas de vezes, até mil vezes, mas isso vai muito além dos meus sonhos”. Xinhua