Beijing – A Faixa de Gaza, lar de mais de dois milhões de palestinos, sofreu décadas de violência, bloqueio e sofrimento. Em resposta a esse sofrimento de longa data, a mais recente proposta de Washington para realocar os palestinos de Gaza faz pouco para aliviar a crise. Em vez disso, só promete mais dificuldades, deslocamentos e perdas.
Durante coletiva de imprensa na terça-feira com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos planejam assumir a Faixa de Gaza. “Vejo uma posição de propriedade de longo prazo”, disse ele.
Sugerir a realocação de palestinos de suas casas não só é equivocado, mas é um erro de cálculo grave com potenciais violações do direito internacional.
O que Gaza precisa urgentemente não é de migração forçada, mas de ajuda humanitária e um esforço robusto na reconstrução pós-conflito, esforços terrivelmente ausentes nos anos de conflitos implacáveis.
A solução de dois estados continua sendo o único caminho para uma paz justa e duradoura, que respeite a dignidade e os direitos de israelenses e palestinos. Infelizmente, a proposta de Washington ameaça minar esse mesmo princípio, arriscando mais desestabilização em uma região que já está à beira do colapso.
Não é surpresa que essa sugestão tenha atraído condenação rápida e generalizada de todo o mundo. Os países árabes, em particular, a rejeitaram completamente. Hussein al-Sheikh, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), deixou claro que a OLP “rejeita categoricamente todos os apelos para deslocar nosso povo de sua terra natal”. O Hamas concordou com isso, alertando que essa retórica só aumentará as tensões na região e consolidará o controle dos EUA e de Israel sobre Gaza.
Em uma reunião com o primeiro-ministro palestino Mohammad Mustafa na quinta-feira, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul-Gheit, reafirmou que a proposta dos EUA foi firmemente rejeitada pelos países árabes.
Criança palestina em prédio destruído no campo de refugiados de Jabalia, norte da Faixa de Gaza, no dia 29 de janeiro de 2025. (Foto por Abdul Rahman Salama/Xinhua)
A reação internacional se estende além dos países árabes. O ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, descreveu a proposta como “inaceitável” e fundamentalmente falha, enquanto a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, alertou que essas medidas só levarão a “novo sofrimento e mais ódio”. Da mesma forma, o Ministério das Relações Exteriores da França chamou o deslocamento forçado de palestinos de uma violação “séria” do direito internacional e um “ataque às aspirações legítimas dos palestinos”.
Alguns meios de comunicação apontaram que a proposta dos EUA pode resultar de motivações políticas que visam usá-la como moeda de troca para pressionar os palestinos a fazer concessões em questões territoriais.
No entanto, conforme destacado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, na busca pela paz, piorar o problema não é solução. “É essencial continuar fiel à base do direito internacional”, disse Guterres na quarta-feira.
Gaza não pode virar outra moeda de troca em jogos geopolíticos. É hora de Washington reconhecer essa realidade e trabalhar em direção a uma solução que respeite os direitos de todos os povos da região.