

Em silêncio, o Brasil deixa de comemorar hoje (2) o bicentenário de nascimento de Dom Pedro II (Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga), o segundo e último imperador do Brasil. Sua figura, que governou o país por quase 50 anos (1840-1889), é frequentemente ligada a temas como a abolição gradual da escravidão e o incentivo à ciência e cultura.
Entretanto, uma parte crucial de sua trajetória e de seu legado, especialmente relevante para a história e a memória nacional, é a sua relação com o Nordeste brasileiro, uma região marcada por desafios, como a seca, e que recebeu atenção singular do monarca.
Um dos momentos mais dramáticos do Segundo Reinado foi a Grande Seca (1877-1879), que devastou o sertão e resultou na morte de centenas de milhares de pessoas. O episódio reforçou a necessidade de ações concretas do poder central para mitigar os efeitos da estiagem.
Embora a frase exata “Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome” seja alvo de debate histórico, ela encapsula o espírito de emergência e a dedicação pessoal que Dom Pedro II demonstrou em relação ao problema.
Projetos de Combate: Foi sob o Império que surgiram os primeiros estudos e projetos de grande escala para a convivência com o semiárido. A ideia da Transposição do Rio São Francisco, por exemplo, embora controversa e executada apenas muito tempo depois, remonta aos projetos concebidos ainda no século XIX como resposta às secas.
Ações Imediatas: Durante o período da Grande Seca, o Imperador mobilizou recursos e esforços para a construção de açudes e outras obras hídricas, além de promover a migração temporária e o socorro às vítimas, buscando atenuar o sofrimento da população.
Ao contrário de muitos chefes de estado da época, Dom Pedro II cultivava um profundo interesse pelo conhecimento de seu próprio território, manifestado em extensas viagens. Sua jornada às Províncias do Norte (que compunham o atual Nordeste) em 1859, que durou 134 dias, é um marco em seu reinado:
Contato Pessoal: A viagem não foi meramente protocolar. O Imperador viajou pela Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe, utilizando diversos meios de transporte — de navios a vapor a cavalo — e interagindo diretamente com a população local e com as autoridades regionais.
Registro e Ciência: Seu diário de viagem registra o deslumbre com as paisagens, como a exuberante Cachoeira de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, demonstrando seu interesse pessoal pela geografia e ciência da região. Essa admiração incentivou o registro artístico e fotográfico da paisagem nordestina, por nomes como Auguste Stahl.
“Caminhos do Imperador”: A sua passagem pelo sertão, especialmente ao longo do Rio São Francisco (em Alagoas e Sergipe), deixou marcas tão duradouras que, em alguns locais, o percurso é explorado turisticamente até hoje, reforçando a memória de sua presença.
O legado de Dom Pedro II no Nordeste está intrinsecamente ligado à sua visão de uma nação unificada e moderna, onde mesmo os problemas mais complexos do interior mereciam a atenção e o investimento do governo central.
É lamentável que um País decrete o esquecimento de sua própria história e daqueles que de alguma forma ajudaram a construir a Nação.