Chico, Estados Unidos – Localizada em Chico, Califórnia, a Sierra Nevada Brewing Company representa uma típica história de sucesso americana. Fundada em 1980, a marca cresceu de uma pequena operação de garagem para uma das maiores cervejarias artesanais independentes do mundo, com uma receita anual estimada entre 300 e 400 milhões de dólares americanos no ano passado.

Como símbolo da revolução da cerveja artesanal nos EUA, a Sierra Nevada continua ocupando uma posição de liderança em um setor que contribuiu com 77,1 bilhões de dólares para a economia nacional em 2024, de acordo com a Associação de Cervejeiros (BA, na sigla em inglês), um grupo comercial americano dedicado à promoção da cerveja artesanal e da produção artesanal de cerveja, com mais de 5.400 membros.

No entanto, fontes dizem que o setor, antes em expansão, tem enfrentado desafios crescentes nos últimos anos devido aos impactos da pandemia de COVID-19, da inflação e da concorrência acirrada. Um problema persistente e cada vez pior, segundo eles, está nas políticas tarifárias adotadas pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, que pressionaram o que antes era uma clássica história de sucesso americana.

CUSTOS MAIS ALTOS

Quando a Xinhua visitou a cervejaria na quinta-feira, o site oficial da BA tinha publicado um aviso tardio de que o Tribunal de Apelações dos EUA para o Circuito Federal decidiu, em 29 de agosto, que as tarifas impostas pela Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional excederam a autoridade presidencial e foram emitidas ilegalmente.

No entanto, a decisão trouxe pouco alívio para as cervejarias, já que as tarifas atuais que afetam as empresas de cerveja artesanal permanecerão em vigor até pelo menos meados de outubro, quando a Suprema Corte deverá analisar o caso e tomar uma decisão final sobre a legalidade das chamadas tarifas do “Dia da Libertação” de Trump.

As tarifas aumentaram os custos de latas de alumínio, barris de aço inoxidável, lúpulo importado da Europa, Austrália e Nova Zelândia, e de ingredientes cervejeiros, como açúcares especiais do Brasil.

Além disso, as tensões comerciais entre Washington e seus parceiros desde o início deste ano prejudicaram o mercado de exportação do setor.

A cerveja enlatada representou aproximadamente 75% do volume embalado e da receita das cervejarias artesanais, de acordo com dados da BA. Muitas choperias também vendem “crowlers”, que são latas de alumínio de 945 ml para viagem. Em 2018, durante seu primeiro mandato, Trump impôs uma tarifa de 10% sobre as importações de alumínio, o primeiro golpe para o setor.

O impacto nos preços das latas persistiu durante o governo Biden, enquanto novas tarifas este ano aumentaram a pressão. O governo Trump aumentou a tarifa sobre o alumínio importado para 25% em 10 de fevereiro e para 50% em 4 de junho. Nesse período, as latas vazias importadas também foram atingidas por uma tarifa de 25%. Em meados de agosto, o Departamento de Comércio dos EUA esclareceu que a tarifa de 50% também abrangia lacres e tampas de alumínio.

Como a maioria das cervejas artesanais é vendida em latas de alumínio, os preços mais altos do alumínio se traduzem diretamente em latas mais caras e, consequentemente, na cerveja. Uma sobretaxa comum no preço do alumínio nos EUA também aumentou, elevando ainda mais os custos das latas.

“O alumínio continua sendo o maior custo individual de insumo para a maioria das operações de embalagem das cervejarias”, alertou a associação em um blog em agosto.

Aumentos semelhantes atingiram o aço, com tarifas saltando para 25% e agora para 50%. Além dos metais, as medidas comerciais de Trump também atingiram ingredientes cervejeiros que as cervejarias artesanais usam para inovar e criar novos sabores e aromas.

Caminhão com produtos de aço é visto nas instalações de um fornecedor de aço em Delta, Colúmbia Britânica, Canadá, em 3 de junho de 2025. (Foto por Liang Sen/Xinhua)

TENDÊNCIA DE BAIXA

Em 2024, as pequenas cervejarias nos Estados Unidos produziram 23,1 milhões de barris, uma queda de 3,9% em relação ao ano anterior. No primeiro semestre de 2025, a produção caiu cerca de 5% a mais, de acordo com o Relatório Semestral de 2025 da associação. O fechamento de cervejarias continua superando as inaugurações em junho de 2025, com queda de 1%, para 9.269 cervejarias, ante 9.352 no ano anterior.

O ano passado também marcou o quarto ano consecutivo com redução nas inaugurações de cervejarias. Essa tendência de queda, que começou durante o primeiro mandato de Trump, reverteu décadas de expansão desde o boom da cerveja artesanal americana, que começou na década de 1970 com apenas cerca de 100 cervejarias.

Grandes cervejarias começaram a alertar os investidores sobre esses efeitos. Em agosto, a Molson Coors, uma grande cervejaria com sede em Chicago, Illinois, reduziu sua previsão, citando o aumento dos custos do alumínio como um dos motivos. Empresas menores, segundo analistas, têm muito menos capacidade de ajustar preços, absorver custos mais altos ou repassá-los aos clientes.

Muitas cervejarias disseram que enfrentam escolhas difíceis em termos de preços e margens, com algumas buscando proteção contra falência ou fechando seus negócios.

Tarifas overnight, que ocorrem de um dia para o outro, podem adicionar 60 milhões de dólares, mais ou menos, à estrutura de custos de pequenas cervejarias nos Estados Unidos, disse Bart Watson, presidente e CEO da Associação de Cervejarias, à mídia local em março.

A posição global que a cerveja artesanal americana conquistou nas últimas décadas também foi abalada, à medida que a indústria se tornou um alvo fácil para tarifas retaliatórias, especialmente do Canadá, que responde por cerca de 38% das exportações de cerveja artesanal dos EUA.

As políticas tarifárias de Trump provocaram retaliações em várias províncias canadenses. No início deste ano, varejistas cancelaram pedidos ou retiraram marcas artesanais americanas das prateleiras em protesto. Embora o governo federal canadense tenha suspendido a maioria de suas contratarifas de 25% sobre produtos americanos em 1º de setembro, manteve as medidas vinculadas ao aço e ao alumínio.

Ontário, a província mais populosa do Canadá, anunciou que as bebidas alcoólicas dos EUA permaneceriam fora das prateleiras das lojas de bebidas administradas pelo governo até que um acordo tarifário ou isenção fosse alcançado. No início do ano, várias províncias canadenses removeram completamente os produtos americanos.

A Sierra Nevada não anunciou alterações de preço relacionada às tarifas. Como muitas outras cervejarias, a cervejaria está se concentrando em novos produtos, incluindo opções sem álcool, e na venda de chope em bares para manter o valor sem aumentar os preços no varejo. A empresa, como grande parte do setor, está monitorando de perto os custos do alumínio e a reabertura das prateleiras canadenses para produtos americanos.

As tarifas “podem levar a decisões difíceis para cervejarias artesanais pequenas e independentes, elas podem precisar aumentar os preços ou reduzir sua variedade de ofertas, principalmente na distribuição. Já existem muitas opções, e estas estão adicionando mais”, disse Watson aos membros da BA em junho, após os aumentos de 50% nas tarifas sobre alumínio e aço.