Derrota eleitoral esmagadora deixa bloco governista do Japão em situação instável

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Derrota eleitoral esmagadora deixa bloco governista do Japão em situação instável

(250721) -- TOKYO, July 21, 2025 (Xinhua) -- Japanese Prime Minister Shigeru Ishiba, also president of Japan's ruling Liberal Democratic Party (LDP), meets the press at the LDP headquarters in Tokyo, Japan, July 20, 2025. The coalition led by the LDP is certain to lose its majority in the House of Councillors following Sunday's election, public broadcaster NHK reported. Despite the defeat, Shigeru Ishiba has expressed his intention to stay on as Japan's prime minister, adding that the LDP must fulfill its responsibility as the ruling party. (Franck Robichon/Pool via Xinhua)

Tóquio  — Em um revés político histórico, a coalizão governista do Japão perdeu a maioria na Câmara dos Conselheiros, sinalizando profunda insatisfação pública com o governo e lançando dúvidas sobre a capacidade do primeiro-ministro Shigeru Ishiba de governar com eficácia em meio às crescentes pressões nacionais e internacionais.

De acordo com o resultado dos votos, concluído na madrugada de segunda-feira, o PLD conquistou apenas 39 dos 125 assentos em disputa, enquanto o Komeito conquistou oito, abaixo da meta combinada de 50.

Mesmo com os 75 assentos não disputados, o partido agora detém menos do que as 125 necessárias para a maioria na câmara alta de 248 membros.

A derrota segue um resultado semelhante nas eleições de 2024 para a Câmara dos Representantes, deixando o bloco governista em minoria em ambas as casas do parlamento, algo inédito desde a fundação do PLD em 1955.

Esses resultados destacam o colapso generalizado do apoio aos partidos governistas em distritos eleitorais urbanos e rurais. Nos 32 distritos eleitorais de assento único do Japão, o PLD venceu apenas em 14, marcando um declínio significativo mesmo em redutos conservadores tradicionais como Tohoku e Shikoku.

A insatisfação generalizada dos eleitores com a forma como o governo lidou com a inflação e as políticas econômicas foi o tema dominante da campanha. Pesquisas mostraram que a principal preocupação do eleitorado eram “contramedidas contra o aumento dos preços”, superando em muito temas como segurança nacional ou reforma constitucional.

Controvérsias anteriores, como a alta dos preços do arroz, gafes ministeriais e políticas problemáticas de vouchers, também corroeram a confiança pública no governo.

Em contraste, os partidos de oposição conseguiram atrair eleitores frustrados, se concentrando em questões básicas. O Partido Democrático para o Povo (DPP) surpreendeu ao aumentar seu número de assentos de nove para 22.

Com o slogan “Um Verão para Aumentar a Renda Líquida”, o partido propôs políticas concretas, como o aumento do limite da isenção fiscal para trabalhadores de meio período e temporários, além da eliminação da sobretaxa sobre a gasolina no Japão.

Outro grande vencedor foi o partido populista de extrema direita Sanseito, que saltou de dois assentos para 15. Com uma mensagem nacionalista “Japão em Primeiro Lugar” e políticas rigorosas contra a imigração, o partido usou as redes sociais de forma eficaz para o Sanseito alcançar um impacto muito maior do que conseguiria apenas com presença na mídia tradicional.

O professor associado Shinichi Yamaguchi, da Universidade Internacional, observou que o Sanseito conseguiu transformar o sentimento on-line em ganhos eleitorais reais, definindo o debate sobre imigração e políticas de identidade social.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, também presidente do Partido Liberal Democrata (PLD) do Japão, fala com imprensa na sede do partido em Tóquio, Japão, no dia 20 de julho de 2025. (Franck Robichon/Divulgação via Xinhua)

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba, que havia definido a meta mínima de 50 assentos como linha de corte para o sucesso, declarou sua intenção de continuar no cargo apesar do resultado negativo.

No entanto, as derrotas em ambas as câmaras colocam sua liderança sob intensa vigilância e limitam severamente a capacidade de seu governo de aprovar leis sem a cooperação dos partidos de oposição.

Enquanto isso, a pressão externa aumenta. O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que Washington se prepara para impor tarifas recíprocas de 25% sobre produtos japoneses a partir de 1º de agosto.

Embora o Japão afirme que o resultado das eleições não afetará as negociações, analistas duvidam de que o país manterá poder de barganha com um governo enfraquecido.

Como as eleições para a Câmara Alta do Japão não determinam diretamente o cargo de primeiro-ministro, a permanência de Ishiba no cargo está tecnicamente garantida por enquanto. A fragmentação da oposição, que inclui divergências profundas sobre política constitucional e de segurança, torna improvável uma mudança imediata na liderança.

No entanto, a dissidência interna dentro do PLD está crescendo. Algumas figuras do partido já discutem o momento adequado para uma eventual troca de liderança, informou a mídia local.

A sessão extraordinária da Dieta neste outono provavelmente será um grande teste. O governo precisará aprovar um orçamento suplementar com novas medidas contra a inflação e ações em resposta às tarifas dos EUA. Um fracasso nesse sentido pode paralisar a administração.

Observadores políticos alertam que a liderança de Ishiba poderá ser desafiada se a instabilidade persistir.

Com a perda da dominância histórica do bloco governista, o futuro da política japonesa e sua capacidade de lidar com dificuldades internas e pressão internacional, continua incerto.

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