BRICS se mobiliza para expandir cooperação com Sul Global para governança global inclusiva e sustentável

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BRICS se mobiliza para expandir cooperação com Sul Global para governança global inclusiva e sustentável

Foto: Liu Bin/Xinhua

Líderes dos países do BRICS, reunidos no domingo e na segunda-feira para a 17ª Cúpula do BRICS, reiteraram seus compromissos com a reforma e o aprimoramento da governança global, expandindo a cooperação com o Sul Global.

A reunião adotou a Declaração do Rio de Janeiro, que apela ao fortalecimento do multilateralismo e à reforma da governança global, promovendo a paz, a segurança e a estabilidade internacional, além do fortalecimento da cooperação econômica, comercial e financeira internacional.

Ao discursar na sessão plenária da cúpula, com o tema “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”, no domingo, o primeiro-ministro chinês Li Qiang apelou aos países do BRICS para que se empenhem em virarem pioneiros no avanço da reforma da governança global, protegendo a paz e a tranquilidade mundiais e impulsionando a solução pacífica de controvérsias.

Em 2015, o presidente chinês Xi Jinping apresentou a visão da governança global de ampla consulta e contribuição conjunta para benefício compartilhado, oferecendo a solução da China para o desafio da governança global.

Dez anos depois, essa visão ganhou crescente influência global, conforme transformações sem precedentes em um século se aceleram no mundo.

“O mundo entrou em uma nova fase de grandes mudanças turbulentas, e a ordem internacional está passando por uma reorganização significativa. Após sua expansão, o mecanismo do BRICS unirá esforços para promover o desenvolvimento comum, defender o multilateralismo e contribuir ainda mais para a construção de um sistema de governança global mais equitativo”, disse Boris Guseletov, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Europeus da Academia Russa de Ciências.

Li também pediu comprometimento com a construção de uma economia mundial aberta e enfatizou a importância de se opor ao unilateralismo e ao protecionismo ao discursar nas sessões plenárias.

O primeiro-ministro chinês observou que a atual ordem econômica e comercial internacional, juntamente com o sistema multilateral de comércio, enfrenta sérios desafios, e a recuperação econômica global continua árdua.

Uma maior cooperação do BRICS deve continuar fiel ao seu propósito fundador, atender às necessidades da atualidade, defender e praticar o multilateralismo, promover o estabelecimento de uma ordem econômica e comercial internacional equitativa e aberta, unir esforços no Sul Global e contribuir ainda mais para a estabilidade e o desenvolvimento globais, afirmou ele.

Em meio às crescentes tensões comerciais globais, a 17ª Cúpula do BRICS reforçou o papel fundamental do bloco na promoção de práticas econômicas mais justas, afirmou Balew Demissie, pesquisador do Instituto Etíope de Estudos Políticos. O BRICS oferece uma plataforma unificada que apoia o comércio multilateral, promove o comércio intrabloco e facilita o uso de moedas locais, reduzindo assim a dependência de mercados limitados, acrescentou ele.

Os líderes presentes nas sessões plenárias concordaram que o mecanismo de cooperação do BRICS está se fortalecendo e ficando mais representativo, com sua influência internacional aumentando de forma constante. Ele forneceu uma plataforma importante para os países do Sul Global defenderem seu direito ao desenvolvimento, defenderem a equidade e a justiça internacionais e participarem da reforma do sistema de governança global, afirmaram eles.

“O BRICS está moldando cada vez mais os debates globais sobre desenvolvimento, governança multipolar e questões de segurança”, afirmou o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, no domingo. “Com nossa ampla presença geográfica e crescente influência, o BRICS está em uma posição única para defender a reforma das estruturas de governança global”.

O primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, afirmou em comunicado que o BRICS, que emergiu como uma força firme e baseada em princípios, representa uma oportunidade para moldar uma ordem internacional mais equilibrada e justa, observando que as organizações internacionais tradicionais precisam ser reformadas para refletir as realidades globais em mudança e levar em conta as aspirações das nações em desenvolvimento.

Além disso, a expansão do BRICS simbolizou um salto qualitativo em sua representatividade e influência. Em janeiro deste ano, a Indonésia, a maior economia da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), aderiu oficialmente ao BRICS. Atualmente, os países do BRICS representam mais da metade da população mundial, quase 30% do PIB global e mais de 50% do crescimento econômico global. Isso representa uma mudança histórica do poder do Sul Global da periferia para o centro da arena internacional.

“Para que o sistema internacional seja mais abrangente, justo e democrático, é importante que o Sul Global tenha mais poder de ação e voz”, disse Alessandra Scangarelli Brites, editora-chefe da Revista Intertelas do Brasil.

“Isso não significa lutar pelo poder para ter controle sobre os outros, mas para ter ações equitativas e ter suas posições e interesses ouvidos e atendidos de forma mais igualitária, independência e respeito à soberania dos países”, acrescentou a editora-chefe.

Durante conversas com outros líderes à margem da cúpula, o primeiro-ministro chinês expressou a disposição da China em pressionar por um papel maior do Sul Global na melhoria da governança global.

Ao se reunir com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, um dia antes da cúpula, Li afirmou que a China está disposta a aprimorar a comunicação e a coordenação com o Brasil. Em estruturas multilaterais como as Nações Unidas, o BRICS e o G20, trabalhar com os países em desenvolvimento para promover um mundo multipolar igualitário e ordenado e uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, proporcionando mais certeza e estabilidade ao mundo.

Em seu encontro com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, Li observou que a China e a Etiópia são importantes países do Sul Global, e que a China se unirá à Etiópia para fortalecer a comunicação e a coordenação em estruturas multilaterais, impulsionar os esforços conjuntos de todas as partes para praticar o verdadeiro multilateralismo, proteger firmemente a globalização econômica e o livre comércio e injetar mais estabilidade e energia positiva no mundo.

Após as sessões plenárias, Li se reuniu com a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, e afirmou que a China, como sempre, continuará praticando e protegendo o multilateralismo e o livre comércio, apoiará ativamente a reforma e o desenvolvimento da OMC para restaurar sua autoridade, acelerará o aprimoramento das regras comerciais e pressionará por resultados mais concretos na 14ª Conferência Ministerial da OMC.

“Em vez de unilateralismo e protecionismo, os países do BRICS reafirmaram a importância da cooperação e de uma economia aberta para que todos os países alcancem o desenvolvimento e a segurança coletiva”, disse Marcos Cordeiro Pires, professor de ciências políticas e econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP).

Os países do BRICS buscam uma nova governança global e uma estrutura global inclusiva, representativa e ancorada nos princípios de soberania, igualdade e coexistência pacífica.

“A demanda por uma nova governança global não é capricho, mas um processo de reparação histórica. O BRICS oferece uma plataforma para uma cooperação inclusiva, distante da hegemonia e mais próxima dos princípios da multipolaridade”, disse Jhonathan Mattos, professor associado do Departamento das Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

“É um modelo de multilateralismo, multipolaridade, integração regional e identidade de demandas compartilhadas”, disse Mattos. Xinhua

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