Por: Inaê Brito
Muitos dizem que a língua inglesa é a língua mundial e essencial para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Mas existe também outros tipos de linguagens que atingem a massa, em todo e em qualquer lugar: a música. A música é onde nós podemos nos relacionar completamente, para relaxar, para festejar, criada essencialmente para ser usada de qualquer forma por qualquer um.
Mas como a música tem mudado durante os anos? E como a mesma tem se mostrado um espaço seguro para a nossa juventude preta e lgbtq+ atual? Partindo do princípio da inclusão e representatividade na música ao decorrer dos anos, atualmente nos encontramos num período musical cultural de maior grandeza nesse sentido, diferentemente de como era na década de 60, 70, 80 e 90.
Começando pela década de 60 que foi citada a cima, foi uma época de Ascenção do rock and roll, marcada pelos Beatles, que são até hoje são considerados uma das maiores bandas de rock de todo o mundo. Além disso, tivemos todas as bandas e artistas solos que foram revolucionarias para aquele tempo, Bob Dylan, The Who, e os rolling stones por exemplo. No Brasil começa a MPB e temos o Clube da Esquina, o movimento tropicália, e a presença forte de artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa entre outros grandes nomes da música brasileira.
Nos anos 70 somos marcados pelo Disco (Abba) e pelo Punk (Blondie), mas essa época também nos ofereceu outros subgêneros musicais como Glam rock com David Bowie, rock progressivo com o Pink Floyd e no Brasil vem Rita Lee & Tutti Frutti, os Doces Bárbaros e a grande banda Novos Baianos, que marcou fortemente o movimento de contra cultura no Brasil na época da ditadura militar. Vem o surgimento do Hard Rock nos apresentando lendas da música como Led Zeppelin e Deep Purple, impressionando com suas guitarras com forte distorção e envolvendo o blues e rock.
Em 80 vemos cor e futurismo, com pop e música eletrônica. Uma fase marcada por dance music, new wave e synth pop com A-ha, Blondie, Tears for Fears. Além das primeiras festas raves, essa era também foi marcada pela popularidade de Madonna, Michael Jackson e o crescimento do Hip-Hop e vertentes do Heavy metal, como trash metal (Metallica, Megadeth) e hard rock (ACDC, Bon Jovi). E no Brasil temos a consolidação de bandas como Paralamas do Sucesso, Titãs, e Legião Urbana.
O grunge foi extremamente popular nos anos 90, com Nirvana, Pearl Jam, Foo Fighters. Marcado por diversas apresentações acústicas na MTV, também tivemos bandas como Rage Against The Machine (Nu metal), 2Pac (Rap), e no Brasil o crescimento do sertanejo, axé, funk carioca e pagode. Além de outros nomes extremamente famosos como Ivete Sangalo e Mamonas Assassinas.
Agora que nos foi lembrado o que era popular nessas décadas passadas, vamos analisar como a atualidade se mostra mais inclusiva e consequentemente mais segura para dos apreciadores de música, principalmente os jovens. Uma coisa majoritariamente em comum, em todas as décadas citadas, é que os grandes nomes e as grandes bandas de cada respectiva era, são marcadas por homens e branquidade. E isso não é ruim, visto que tivemos grandes nomes musicais passados que não eram caucasianos. Como Prince, Jimi Hendrix, Gilberto Gil, Michael Jackson e também tivemos grandes mulheres; Madonna, Cindy Lauper, e Elis Regina por exemplo.
Contudo naquela época ainda era uma representatividade muito pequena, porque esses eram os tempos, tempos difíceis para minorias, que não se viam representadas fortemente por ídolos que tocavam nas rádios e que se vendiam nos discos. Tivemos ícones Lgbtq+ como Elton John, e o crescimento do espaço negro com rap e hip-hop com 2Pac e Lauryn Hill, mas ainda eram tempos hostis em questões de inclusão. Finalmente no começo dos anos 2000 conseguimos ver a indústria musical ganhar, cor, etnia e abrangimento. O r&b que tocava nas rádios na época em que eu cresci foi o que me mostrou os negros na música, com Beyoncé, Rihanna, Alicia Keys e grandes divas pop como Lady Gaga e Katy Perry que sempre se demonstraram grandes aliadas da comunidade LGBTQ+.
Ainda assim, não se viam pessoas pretas e lgbts dominando qualquer área da música. Essas minorias ainda não eram tão humanizadas, mas começou a serem humanizadas ali em 2000. Quando chegamos nos anos 2010 e 2020 temos uma mudança crucial na arte, e não só na música, mas como no cinema, na literatura, na arquitetura, na poesia, e todas as sete artes. Mesmo que isso tenha ocorrido gradativamente, a mudança é clara e percebida. Existem vários fatores para isso, com o avanço da tecnologia as minorias tem conseguido mais voz e trazido mais pautas para o dia a dia que ajudam a gente a refletir sobre nossos costumes.
Além disso bandas e artistas nacionais e internacionais que são ativos hoje em dia, sempre buscam experimentar coisas novas e testar novos gêneros musicais, e isso acaba abrangendo novos caminhos e dando acesso para que novos ouvintes ouçam os trabalhos dos artistas. Para mais, é muito mais fácil lançar músicas hoje em dia, e ouvi-las também, então juntando o avanço tecnológico, as plataformas das minorias, a evolução em questões de pautas que eram tabus, a música se tornou um espaço muito mais envolvente para pretos e lgbts.
Cantores como Pabllo Vittar, Lizzo, Gloria Groove, Luedji Luna, Mitski, Girl in Red, Baiana System, Liniker , Djonga entre outros, conseguem ter um espaço no Brasil e no mundo que trazem conversar necessárias sobre sua existência e mostra para pessoas que se parecem com elas (seja pela orientação sexual, identidade de gênero, expressão sexual ou raça) que a arte também está ali para eles e por eles para ser apreciada, analisada, abraçada e usada da forma que pode ser usada. Hoje essas minorias se escutam, e conquistam esses espaços, e desfrutam dessa cultura na rádio, nas plataformas digitais, e se vem em todo o lugar, fazendo da indústria musical, uma plataforma muita mais colorida e humanizada.