Confinamento social leva a mudanças de hábitos nas aldeias alentejanas

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Confinamento social leva a mudanças de hábitos nas aldeias alentejanas

Foto: Diário do Sul

Diário do Sul (Portugal) – Às esquinas já não se encontram, os bancos do jardim estão vazios, nas ruas ouvem-se os chilreares dos pássaros. As aldeias estão desertas, não porque não haja população, mas porque somos poucos e quando nos recatamos e olhamos apenas pelos postigos das portas fazemo-lo pelo bem de todos. É este o cenário que se vive nestes “montes”, onde apenas aqueles que têm mesmo de sair para trabalhar o fazem. O passeio higiénico é feito no campo, longe de tudo e de todos. Os únicos locais de encontro, com distâncias bem medidas, são as mercearias. Aquele comércio local que quase morreu e que agora renasce em seu esplendor para fugir das idas aos hipermercados na cidade mais próxima.

As ruas estão vazias. Parece que colocámos a vida em pausa, a azáfama para ir para o trabalho, as horas que não são suficientes para dar conta de tudo o que temos para fazer. Agora, os dias passam lentamente como diz uma idosa de 86 anos. “Agora temos tempo para tudo, parece que voltámos atrás quando eu era rapariga nova”, conta Gertrudes Mendes, residente em Azaruja. Embora os filhos apenas se assomem à porta para ver como está, levando as compras de que necessita, diz ficar contente apenas de lhes ver o sorriso e de que estão bem.

As conversas das mulheres nas ruas ou entre paredes meias de quintais em que as estórias ganhavam grande dimensão já não existem. Cada uma está em sua casa e até o ritual de ir buscar o pão ao padeiro às 7h da manhã já não existe. O talego do pão pendurado na porta para que aí seja colocado é um ato que está a crescer nestas localidades.

No entanto, ainda se ouve o apito do homem dos legumes e do peixe fresco. Todas as semanas, ao mesmo dia, à mesma hora, o ritual repete-se. Esta é outra forma de fintar as grandes superfícies, comprando aos agricultores e à porta à porta, mantendo o distanciamento e assim que entram em casa, a primeira coisa a fazer é lavar as mãos. “Não me lembro de lavar as mãos tantas vezes”, diz Maria Saias, moradora em São Miguel de Machede. Cumpre com rigor a higienização dentro do lavatório de pé alto onde uma toalha bordada com as iniciais o seu nome brilha de tão branca que está. “O sabão azul faz milagres”, sorri, evidenciando ainda mais as rugas do rosto.

Para os homens é mais difícil ficar em casa. “Tenho de ir à mercearia senão falta-me o ar”, desabafa Joaquim Arquimínio, enquanto a mulher o olha com graça. “Tenho tantas saudades de beber o meu café. Faço em casa, mas não é a mesma coisa”, conta, enquanto se ampara na bengala e afasta a boina da testa. O sol está quente na Igrejinha.

Apesar da obrigatoriedade de estarmos longe uns dos outros, o espírito de vizinhança não desarma. Há sempre alguém que deixa à porta um cesto com laranjas, alguém que bate ao portão e que grita se queremos um molho de coentros ou de salsa. Alguém que telefona porque não pode ir até à casa da amiga, mas que se importa em saber se está tudo bem.

Desejosos de poderem voltar a cumprimentar-se, de fazerem as festas onde todos se encontram, de saberem as novidades deste e daquele, cada um está agora confinado à sua casa, ao seu casulo, para o bem deles e de todos. Aqui, no Alentejo, somos assim. Resilientes.

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